Um interessante artigo sobre a prática de encolher cabeças, praticada pelos índios Jivaro, pode ser lido aqui.
A lobotomia foi utilizada como tratamento para uma série de doenças mentais, finalmente caindo em desuso.
O vídeo abaixo mostra cenas originais das cirurgias feitas na década de 30 e o testemunho de um psiquiatra a uma rede de televisão americana:
Este vídeo mostra como, em 1934, um belga chamado Paul Otlet previu um "livro irradiado", que ficaria disponível no desktop mas armazenado em bibliotecas distantes. Confiram:
Em 1955, após sete anos de tentativas, nasceu o primeiro filho de John e Mary Holter. O nascimento de Casey Holter virou de cabeça para baixo a vida de John Holter e mudou o curso da história da medicina.
Infelizmente, Casey sofria de espinha bifida, uma condição na qual a coluna vertebral não se forma completamente e pode ter malformações muito perigosas.
O problema de Casey também estava causando hidrocefalia, um perigoso acúmulo de líquido céfalo-raquidiano (líquor) no cérebro. Esse líquido é produzido pelos plexos coróides das meninges e normalmente atua como um coxim líquido, protetor do cérebro e da medula. Ele normalmente circula pelo sistema nervoso e depois é drenado para a corrente circulatória.
Se o sistema de drenagem for bloqueado, entretanto, o líquido céfalo-raquidiano pode se acumular, distorcer e lesar o cérebro, causando até mesmo a morte.
Em 1955, a única coisa que mantinha Casey vivo era um procedimento, feito duas vezes ao dia, no qual uma agulha era inserida na fontanela, uma área mole da cabeça do bebê, e o excesso de fluido era removido com uma seringa para reduzir a pressão.
Casey foi, então, operado pelo neurocirurgião Eugene Spitz para inserir uma válvula de bola e mola que, em princípio, permitiria a drenagem do líquor para a corrente sangüínea, sem permitir que elementos perigosos do sangue refluíssem para o sistema nervoso central.
Infelizmente, a válvula era muito rudimentar, e, quando inserida, irritou o coração de Casey produzindo um ataque cardíaco e lesão cerebral permanente.
John Holtz, então trabalhando como técnico em hidráulica numa fábrica, pediu a Eugene Spitz os detalhes da cirurgia. Ele ficou surpreso com o fato de que o problema, que parecia uma simples questão de hidráulica, ainda não tivesse sido resolvido.
Ele havia notado que, quando as enfermeiras perfuravam certos tubos de medicação com agulhas, não ocorriam refluxos de líquido pois os furos eram à prova de vazamento a baixas pressões. Mas, como nos bicos das mamadeiras, quando a pressão era alta o suficiente, os furos se abriam e permitiam a passagem do líquido. Uma válvula perfeita para permitir a drenagem do líquor com o aumento da pressão, sem deixar ocorrer nenhum refluxo!
Holter foi para casa, sentou-se na sua oficina e construiu a primeira versão da válvula naquela noite mesmo. Ela era feita a partir de um condom e tubos de plástico, mas funcionava.
Entretanto, Spitz observou que a válvula deveria ser construída com material inerte para o organismo, para evitar que ocorresse o mesmo problema que havia lesado o cérebro de Casey.
Holter entrou em contato com a Dow Chemical e foi aconselhado a utilizar silicone, um material novo na época.
Holter criou uma versão utilizável dentro de poucos meses. Tão rápido, na verdade, que o seu filho não pôde utilizá-la pois ainda não havia se recuperado da primeira cirurgia.
A válvula foi então instalada com sucesso em outra criança, e em 1956 Casey também recebeu uma, que curou a sua hidrocefalia. Infelizmente, o cérebro de Casey já estava irremediavelmente lesado e ele morreu cinco anos após, durante uma crise convulsiva.
O legado de Casey é usado até hoje, e a invenção de Holter é conhecida como "shunt de Spitz-Holter".
Holter passou o resto da sua vida desenvolvendo válvulas para uso na medicina e faleceu em 2003, após salvar a vida de milhares de crianças que padeciam do mesmo mal que o seu filho...
Adaptado do blog Mind Hacks
Interessantissima a entrevista com Howard Dully, um paciente lobotomizado pelo Dr. Walter Freeman aos 12 anos de idade (atualmente ele está com 56 anos).
A lobotomia pré-frontal foi inventada por um neurocirurgião português, o Dr. Egas Moniz, e popularizada nos Estados Unidos pelo Dr. Walter Freeman, que a modificou para que pudesse ser feita no consultório (lobotomia trans-orbitária ou "ice-pick lobotomy"), em menos de 10 minutos, com uma incisão através da órbita, como na figura acima, que mostra Howard Dully sendo lobotomizado aos 12 anos de idade.
Essa psico-cirurgia era a única terapêutica disponível para alguns casos de psicopatias, e foi abandonada com o advento das drogas neurolépticas. Infelizmente, o Dr. Freeman abusou das potencialidades dessa cirurgia e menosprezou as suas potenciais complicações, encerrando a sua carreira depois que uma paciente morreu de hemorragia cerebral.
A reportagem completa, com o arquivo sonoro da entrevista, está no site NPR.
Encontrei um site que permite o download do texto completo de trabalhos clássicos das Neurociências.
Há trabalhos de Katz, Hodgkin e Huxsley, Broadbent, e muitos outros.
Cite o trabalho original na sua tese!
O site pode ser acessado clicando aqui.
Antes dos Palm-Pilots, iPods, PCs e laptops, o termo "computador" referia-se a pessoas que faziam cálculos científicos manualmente. Esses trabalhadores não eram gênios científicos nem idiots savants, mas pessoas instruídas que, sob outras circunstâncias, poderiam ter se tornado cientistas. O livro When Computers Were Human, de David Alan Grier, representa o primeiro relato em profundidade desse período pouco conhecido de 200 anos na história da ciência e da tecnologia.
Via Viridarium, reproduzimos um post de José Pedro Souza Dias:
Na maré da leonardomania, desencadeada pelo famigerado "Código D.", é bom podermos contar com algumas iniciativas de qualidade. Uma delas veio do Istituto e Museo di Storia della Scienza [IMSS], fundado em 1927 por iniciativa da Universidade de Florença. É uma exposição nesta cidade, na Galleria degli Uffizi, disponível na Net, com o título:
La mente di Leonardo - Nel laboratorio del Genio Universale (em italiano)
The Mind of Leonardo - the Universal Genius at Work (em inglês)
Como o subtítulo indica, a exposição visa 'explorar o trabalho e os processos do "Génio Universal "'. A exposição, dividida em seis secções, inclui texto, imagens, reconstruções e animações em vídeo. É pena que a dimensão das imagens disponíveis seja tão reduzida, mas esta característica traduz-se numa maior velocidade de transferência de dados.
Link para The Mind of Leonardo
Uma figura já quase lendária é a do médico e político português Egas Moniz, que ganhou o prêmio Nobel de Medicina de 1949 e foi também o inventor da angiografia cerebral.
Ele recebeu o prêmio Nobel pela criação de um método cirúrgico para tratamento de doentes psiquiátricos, a leucotomia pré-frontal.
Transcrevo trecho do blogue egasmoniz:
Egas Moniz raramente foi a público discutir acerca dos seus trabalhos científicos. Apesar das numerosas críticas que lhe foram dirigidas, quer relativamente aos efeitos colaterais das soluções opacificantes que usou na Angiografia Cerebral, quer quanto às apreciações negativas que impendiam sobre a leucotomia préfrontal, Egas Moniz optou, quase sempre, pelo silêncio.
O texto cuja capa ficou afixada acima, corresponde a um desses raros momentos em que Moniz se ocupou publicamente das avaliações negativas do seu método.
Começa assim:
«Quando pensei em alterar o circuito de influxos no encadeamento das células nervosas cerebrais, no propósito de modificar a vida psíquica dos alienados, meditei cerca de três anos sobre a ousada tentativa. Apenas Almeida Lima, colaborador constante dos nossos trabalhos de investigação, soube dos meus ainda mal esboçados propósitos e da base anatómica em que os firmava.» (*)Moniz tem então 80 anos de idade e este trecho do exórdio tem uma importância fundamental. Corresponde a uma contestação indirecta das versões em que era acusado de ter agido precipitadamente, no final de 1935, no regresso de Londres, onde participara no 2º Congresso Internacional de Neurologia. Teria assistido aí à apresentação de resultados da ablação bilateral do córtex préfrontal de duas chimpanzés (Becky e Lucy). Charles Jacobsen - que trabalhara em colaboração com John Fulton - fizera a demonstração que, após a lobectomia, a reacção furiosa que se verificava anteriormente, sempre que as chimpanzés procuravam comida e não a encontravam, desaparecia e dava lugar a um comportamento calmo, destituído de picos emocionais. Moniz nunca confirmou a versão segundo a qual teria, então, formulado a questão de saber se a remoção dos lobos frontais evita o desenvolvimento de uma neurose experimental em animais e elimina a frustração comportamental, porque não seria, então, possível, aliviar os estados de ansiedade nos humanos por meios cirúrgicos?
Ora, a datação que Egas Moniz revela nesta comunicação, remete para 1931 (cerca de 4 anos antes) o início dos seus estudos e reflexões conducentes à prática da leucotomia pré-frontal, revelando que, com Almeida Lima, já então tratava secretamente dos preparativos.(*) Egas Moniz, A leucotomia está em causa, Academia das Ciências de Lisboa, Biblioteca de Altos Estudos, 1954. Cortesia de Armando Myre Dores e Lina Seabra Dinis, a cuja biblioteca privada pertence o exemplar supra.
Carlos Chagas, o grande cientista brasileiro que descobriu a doença que leva o seu nome, é muito bem retratado nesta biografia online.
Segue um dos trechos mais pitorescos desse interessante artigo:
Voltando ao Rio, foi convidado a ir à Argentina, onde sua descoberta era colocada em dúvida por ninguém menos que Rudolph Kraus, diretor do Instituto de Bacteriologia de Buenos Aires. Kraus alegava ter encontrado em regiões da Argentina barbeiros com tripanossomos – sem a paralela ocorrência de casos. Chagas ponderou que o parasito talvez ainda não tivesse se adaptado aos seres humanos, ou – hipótese mais provável – que os médicos não estivessem familiarizados com o diagnóstico da doença.
Durante esta visita à Argentina ocorreu um incidente pitoresco. Chagas foi visitar o laboratório de Kraus e saiu de lá com um enorme sobretudo, que lhe chegava aos pés: era o sobretudo do próprio Kraus, que levara por engano. Chagas era o protótipo do cientista distraído, desses que até se transformam em personagens de anedotas. Uma vez, em sua própria casa, a empregada serviu-lhe um café. Ele tirou dinheiro do bolso e depositou-o na bandeja, "pagando" pelo café. Numa outra vez, recebeu a visita de um jovem médico que vinha, com a esposa, agradecer-lhe um favor e demorou mais que o habitual nessas visitas. Lá pelas tantas, Chagas, esquecendo que estava em sua própria casa, olhou as horas e disse à mulher: "Íris, está na hora de voltar para a casa". Mas sua distraçao chegou ao auge quando, numa cerimônia internacional em Bruxelas, recebeu do rei Alberto, da Bélgica, uma importante condecoração – esqueceu-a na mesa do banquete. Um ajudante-de-ordens do rei levou-a depois para o hotel.
Neste episódios ele poderia estar sendo vítima de seu próprio inconsciente, como diz Freud. Afinas, raras coisas são piores do que uma visita chata – e talvez ele não valorizasse tanto assim a condecoração real (ou não valorizasse como devia o próprio trabalho).
Transcrevo, abaixo, um texto do ilustre médico brasileiro Miguel Couto (1864-1934). Nele, esse ícone da medicina brasileira discorre sobre a importância da educação para o sucesso de uma nação:
A IGNORÂNCIA REPRESENTA ATRASO, POBREZA E INFERIORIDADE DE UMA NAÇÃO
Estão todos os historiadores acordes em atribuir o êxito mundial do império asiático à educação do povo. Gustavo Le Bon conta no seu admirável Le désequilibre du monde: "Quando no dia 27 de Maio de 1905 a grande esquadra do império russo foi completamente destruída em algumas horas, em Tsoushima, pelos encouraçados japoneses, o estupor foi universal; com efeito, subitamente se tornava evidente que, contra todas as idéias circulantes, o ínfimo Japão, conhecido apenas há meio século, tornara-se uma grande potência. Aliás, em todas as batalhas anteriores, os russos, conquanto sempre mais numerosos, haviam sido invariavelmente batidos. Perguntando ao então embaixador japonês em Paris, o Sr. Motono, qual a causa desta superioridade, respondeu-me o eminente homem de Estado: "O desenvolvimento atual da minha Pátria é fruto da educação ministrada ao povo quando um levante o tirou há pouco do feudalismo. Esta educação, inteligentemente escolhida, foi orientada para desenvolver também a qualidade de caráter legado por nossos avós".
O célebre e fértil escritor japonês Kamakami insiste neste conceito no seu livro intitulado "The real japanese question". "Ninguém contesta que os japoneses têm no seu país uma insaciável sede de educação, e que para aonde emigram levam consigo este anseio de conhecimentos". Já o inspetor da imigração na Califórnia Antone Scar observara que "os rendeiros japoneses podem ter a seu serviço trabalhadores brancos e aproveitar-lhes os filhos nos trabalhos, porém, os seus próprios filhos esses enviam religiosamente ao colégio e nada há que prevaleça a este dever". É a mesma observação do publicista Ray Stannard Baker: "Os japoneses em Haway, apaixonados pela educação, mandam os seus filhos para a escola até os verem inteiramente preparados throughly prepared).
Ora, se com o sucesso feliz que assombrou o mundo o Japão imitou a Alemanha, exemplário das virtudes da cultura em todos os departamentos do saber humano, por que não seguirmos nós o modelo do grande Império do Sol Levante? (...)
A sentença de Maurus precisa ser ampliada - não são só os livros que têm os seus fados, são também os povos. Entretanto, como se salvou o Japão quando lhe cobiçaram o território? Pela educação do povo. Como nos salvaremos nós., Com a cultura do povo, porque da cultura nasce a ambição, da ambição a atividade, da atividade a riqueza, da riqueza multiplicada a fortuna coletiva, e desta a confiança, a força, a durabilidade, a coesão.
Há um grupo social que não chega a formar uma raça, nem uma nacionalidade, e só em torno da fé religa os seus membros, esparsos pelo universo. Escorraçados de toda parte, como o Ashaverus da lenda, perseguido e martirizado, ele não só resiste há dezenas de milhares de anos ao aniquilamento, como impõe aos seus perseguidores a submissão de lhe obsecrar a esmola no momento amargo das aperturas. Por que? Porque o judaísmo exige o estudo como um preceito religiosos e nenhum judeu iletrado se conhece. Se cotejarmos as nações ignorantes e as cultas em igualdade ou proporção de habitantes, chegamos fatalmente ao seguinte postulado: O progresso de um país está na razão direta da cultura do povo.(...)
Não há, pois, mais rendoso emprego dos dinheiros públicos do que o destinado à cultura, assim como a ignorância representa o primeiro e maior fator do atraso, da pobreza e da inferioridade de qualquer nação.
Link para outros textos escolhidos de Miguel Couto