Durante alguns anos, eu trabalhei como professor de inglês. Sempre postulei que, de alguma forma, o cérebro precisa "trocar de canal" quando mudamos de uma língua para a outra; acho, até, que algumas pessoas têm dificuldades para aprender uma segunda língua por nunca deixarem de fazer correlações entre a língua materna e a estrangeira-é como se não "sintonizassem a estação" corretamente, permitindo interferências contínuas entre os idiomas.
Mas em que parte do cérebro ocorre essa "mudança de canal"? Um estudo que aparecerá na revista Science da próxima semana pode ajudar a elucidar esse mistério.
Até recentemente parecia que, para o cérebro, todas as línguas seriam a mesma coisa: quer o diálogo se desse em alemão ou em inglês, os falantes fluentes do idioma pareciam usar sempre as mesmas áreas do cérebro, segundo os achados de estudos de ressonância magnética funcional.
No estudo que será publicado na Science, foi visto que as mesmas áreas corticais-particularmente áreas do córtex temporal esquerdo-são ativadas de modo semelhante pelo alemão e pelo inglês. Entretanto, a neurocientista Cathy Price, do University College de Londres, juntamente com colegas alemães e japoneses, deduziu que deveria haver algum local no cérebro que diferenciasse o Deutsch do English, por exemplo. Esses pesquisadores procuraram esse "seletor de canais" neural.
Os pesquisadores mostraram aos voluntários pares de palavras, uma após a outra, por exemplo, "trout", seguida de "salmon". Neste caso, as palavras têm significados semelhantes, e regiões de linguagem no córtex temporal responderam fracamente à segunda palavra, como se reconhecessem que "salmon" não era grande novidade.
As mesmas regiões responderam de maneira semelhante a palavras equivalentes em línguas diferentes, respondendo fracamente a "salmon" depois de verem a palavra alemã equivalente "lachs". Como nos trabalhos anteriores, foi visto que essas regiões corticais parecem se preocupar apenas com o significado das palavras, independentemente da língua.
Mas uma região profunda do encéfalo, o núcleo caudado esquerdo, registrou as mudanças de língua, respondendo fortemente à palavra "salmon", quando precedida por "lachs", mas apenas fracamente quando precedida por "trout". O caudado esquerdo registrou as mudanças de língua também para outros pares de palavras equivalentes alemão-inglês, bem como para pares inglês-japonês.
Esses achados, juntamente com evidências clínicas de pacientes bilíngües com lesão do núcleo caudado esquerdo, que passaram a ter uma tendência à troca involuntária de idioma, sugerem que essa região do cérebro auxilia na seleção da língua a ser utilizada..
Link para o trabalho na revista Science (é preciso ser assinante!)