A Fantástica História das Válvulas de Hidrocefalia
Em 1955, após sete anos de tentativas, nasceu o primeiro filho de John e Mary Holter. O nascimento de Casey Holter virou de cabeça para baixo a vida de John Holter e mudou o curso da história da medicina.
Infelizmente, Casey sofria de espinha bifida, uma condição na qual a coluna vertebral não se forma completamente e pode ter malformações muito perigosas.
O problema de Casey também estava causando hidrocefalia, um perigoso acúmulo de líquido céfalo-raquidiano (líquor) no cérebro. Esse líquido é produzido pelos plexos coróides das meninges e normalmente atua como um coxim líquido, protetor do cérebro e da medula. Ele normalmente circula pelo sistema nervoso e depois é drenado para a corrente circulatória.
Se o sistema de drenagem for bloqueado, entretanto, o líquido céfalo-raquidiano pode se acumular, distorcer e lesar o cérebro, causando até mesmo a morte.
Em 1955, a única coisa que mantinha Casey vivo era um procedimento, feito duas vezes ao dia, no qual uma agulha era inserida na fontanela, uma área mole da cabeça do bebê, e o excesso de fluido era removido com uma seringa para reduzir a pressão.
Casey foi, então, operado pelo neurocirurgião Eugene Spitz para inserir uma válvula de bola e mola que, em princípio, permitiria a drenagem do líquor para a corrente sangüínea, sem permitir que elementos perigosos do sangue refluíssem para o sistema nervoso central.
Infelizmente, a válvula era muito rudimentar, e, quando inserida, irritou o coração de Casey produzindo um ataque cardíaco e lesão cerebral permanente.
John Holtz, então trabalhando como técnico em hidráulica numa fábrica, pediu a Eugene Spitz os detalhes da cirurgia. Ele ficou surpreso com o fato de que o problema, que parecia uma simples questão de hidráulica, ainda não tivesse sido resolvido.
Ele havia notado que, quando as enfermeiras perfuravam certos tubos de medicação com agulhas, não ocorriam refluxos de líquido pois os furos eram à prova de vazamento a baixas pressões. Mas, como nos bicos das mamadeiras, quando a pressão era alta o suficiente, os furos se abriam e permitiam a passagem do líquido. Uma válvula perfeita para permitir a drenagem do líquor com o aumento da pressão, sem deixar ocorrer nenhum refluxo!
Holter foi para casa, sentou-se na sua oficina e construiu a primeira versão da válvula naquela noite mesmo. Ela era feita a partir de um condom e tubos de plástico, mas funcionava.
Entretanto, Spitz observou que a válvula deveria ser construída com material inerte para o organismo, para evitar que ocorresse o mesmo problema que havia lesado o cérebro de Casey.
Holter entrou em contato com a Dow Chemical e foi aconselhado a utilizar silicone, um material novo na época.
Holter criou uma versão utilizável dentro de poucos meses. Tão rápido, na verdade, que o seu filho não pôde utilizá-la pois ainda não havia se recuperado da primeira cirurgia.
A válvula foi então instalada com sucesso em outra criança, e em 1956 Casey também recebeu uma, que curou a sua hidrocefalia. Infelizmente, o cérebro de Casey já estava irremediavelmente lesado e ele morreu cinco anos após, durante uma crise convulsiva.
O legado de Casey é usado até hoje, e a invenção de Holter é conhecida como "shunt de Spitz-Holter".
Holter passou o resto da sua vida desenvolvendo válvulas para uso na medicina e faleceu em 2003, após salvar a vida de milhares de crianças que padeciam do mesmo mal que o seu filho...
Adaptado do blog Mind Hacks